terça-feira, 25 de agosto de 2009

Devo subir a suspensão do meu jipe?

Percas por se subir um jipe? Mas há? Não é "quanto mais alto melhor"?
Antes de mais perde-se em curso. Nem sempre mas é quase obrigatório, quando a "subida" é feita só à custa de alterações nas molas. Por molas entenda-se qualquer elemento elástico cuja função seja suportar o veículo permitindo curso. Podemos ter, para este efeito, helicoidais, semi-elípticas, barras de torção, ar, sei lá mais o quê. Para que o veículo seja suportado e as rodas possam subir e descer para se adaptarem ao solo há sempre um elemento elástico. Chamar-lhe-ei mola.
Um 'kart' de asfalto não tem molas. É suposto andar num piso quase tão plano como o de uma mesa de bilhar, não precisa de curso. Aliás quando os vemos levantar uma roda, ou é imperfeição do carro, por ter uma estrutura demasiado flexível, ou da condução. Não precisa de amortecedores.
Um carro vulgar já precisa de alguma mola. Precisa de amortecedores que contrariem o efeito de ressonância das molas. Ressonância é o fenómeno que leva a que qualquer movimento pendular que disponha de energia tende a manter-se (ou mesmo a crescer). Ora energia é algo de que a suspensão de um veículo em movimento não tem falta.
Um jipe precisa, em teoria, de muita mola. Há muita irregularidade a absorver. Se precisa ou não de muito efeito de amortecimento já depende da utilização que lhe queremos dar. Se é para andar depressa, curvar com firmeza e outras coisas do género, precisa mesmo muito de amortecedores. Embora aqui seja de pensar se precisa de menos mola, pura e simplesmente. Adiante.
Parado, um veículo dotado de molas estabiliza-se num ponto de equilíbrio em que a força exercida pelas molas é igual ao peso nelas suportado. Se as molas forem alteradas de forma a que esse equilíbrio seja diferente o tal ponto passa a ser outro. Isso pode ser feito por substituição das molas, injecção de maior pressão, torção, inclusão de espacadores, alteração de apoios, seja o que for.
Até aqui o que se obtém é um ponto de partida mais alto.
Nas semi-elípticas que fazem, sozinhas (ou quase) todo o trabalho de suspensão, uma alteração, particularmente se feita à custa de mudança de apoios, implica uma subida sem alteração de curso útil. Isto não é verdade para além de um determinado ponto, pois a transmissão, pelo menos esta, fica em esforço.
No caso de se ter uma limitação de curso em compressão e enquanto não encontrarmos uma limitação à extensão a mudança pode significar ganho, ou pelo menos, não perca de curso. Mas, geralmente não é isso que acontece.
Salvo nas semi-elípticas, a suspensão é composta de elementos que condicionam o movimento das rodas e as molas só servem para compensar as forças exercidas nesse movimento. Nestes casos o limite de curso está, por regra, associado a estes elementos, raramente à mola.
No entanto podemos estar perante situações de utilização do veículo em que uma determinada fracção do curso das suspensões não é adequadamente utilizada. Um exemplo são as molas de efeito progressivo, concebidas para estrada. Nesta é potenciado o retorno ao ponto de equilíbrio, tanto mais quanto se esteja longe deste. Isso pode implicar que nos limites do curso, num jipe, haja demasiada pressão nas rodas que "sobem" e insuficiente nas que "descem".
Outra configuração que pode ser útil mas que limita o curso utilizável é a montagem de molas mais altas ou mais duras. Isso pode implicar a utilização apenas da fracção mais "alongada" do curso.
Em qualquer dos cenários anteriores temos perca de tracção. Por ficarmos mais cedo com rodas no ar ou por não exercermos a pressão adequada ao exercício dessa tracção.
Se não adequarmos o amortecedor ao novo efeito de mola e à utilização que dele fazemos vamos ter um veículo demasiado solto ou demasiado preso. Isso implica que o contacto da roda com o solo será menor que o óptimo o que também irá diminuir a tracção disponível.
Cada veículo é concebido para um determinado efeito. Se for muito bem concebido fará o que deve muito bem, conseguirá fazer algo do que "não deve". Há sempre alguma forma de "afinação" para optimizar um ou outro aspecto dessa capacidade conceptual. Normalmente à custa de percas noutro aspecto. Se levarmos as alterações muito longe estaremos a alterar a personalidade do veículo ao ponto de podermos ficar com um "mono". Ou seja podemos ficar com um veículo que parece óptimo no aspecto em que intervimos mas que piorou em comportamento global ao ponto de nem o aspecto optimizado funcionar. Pensem nisto. Ou pensem que esta opinião é uma perfeita treta é que muito mais confortável.

Fonte: http://www.forum-tt.com

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